Revista Brasileira de Gestao Ambiental e Sustentabilidade (ISSN 2359-1412)
Bookmark this page

Home > Edições Anteriores > v. 6, n. 14 (2019) > Albuquerque

 

Vol. 6, No 14, p. 1003-1016 - 31 dez. 2019

 

Olhar muito além do vetor: uma análise a partir do discurso coletivo sobre uso de plantas no controle de vetores



Janaina Vital de Albuquerque , Solange Laurentino dos Santos e Rejane Magalhães de Mendonça Pimentel

Resumo
Diversos estudos comprovam a baixa efetividade das práticas de controle do vetor via aplicação de inseticidas em centros urbanizados. O uso de plantas no controle do Aedes aegypti tem se mostrado uma alternativa viável há várias décadas, entretanto, o desconhecimento dos indivíduos sobre a sua ação leva a rejeição desta medida. Sendo assim, objetiva-se identificar a partir do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) quais os conhecimentos, percepções e opiniões da população referentes ao uso de plantas no controle vetorial. O método do DSC foi utilizado segundo uma abordagem qualitativa. O local do estudo foi o Bairro de Mutirão, no Município de Serra Talhada, Estado de Pernambuco, Brasil, na coleta e a aplicação de entrevistas a 11 moradores selecionados em amostra por conveniência. Utilizou-se da caminhada transversal a fim de evidenciar o micro e macro contextos do local e a técnica 'bola de neve' na seleção dos participantes e aplicação das entrevistas. Considerando o macrocontexto, o município apresentou doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado, envolvendo as infecto-parasitárias relacionadas às condições precárias de vida, as quais continuam sendo relevantes no quadro de morbimortalidade da população. Percebeu-se, nos discursos, que muitas pessoas conhecem algum tipo de planta usada no controle de vetores. Os conhecimentos surgem de forma empírica através das falas transmitidas de geração em geração e de vivências do cotidiano. Existe uma perda das tradicionalidades nas ações de controle vetorial entre os moradores do alto sertão de Pernambuco, os quais adotam substâncias químicas ao invés de insumos vegetais, sem considerar os perigos e a contaminação do ambiente em que vivem. Por fim, considera-se importante o redirecionamento das ações e das políticas de educação em saúde que incorporem o uso de plantas para controle vetorial bem como investimentos em saneamento a fim de reduzir o risco de infestação vetorial transmissores de arboviroses.


Palavras-chave
Aedes aegypti; Semiárido pernambucano; Bioatividade de plantas; Percepção ambiental; Discurso coletivo.

Abstract
Looking beyond the vector: An analysis from the collective discourse on plant use in vector control. Several studies confirm the low effectiveness of vector control practices via insecticide applications in urbanized centers. The use of plants to control Aedes aegypti has been a viable alternative for several decades. However, the lack of knowledge about its action leads to the rejection of this measure. Thus, the objective is to identify from the Collective Subject Discourse (CSD), which are the knowledge, perceptions, and opinions of the population regarding the use of plants in vector control. The DSC method was used according to a qualitative approach. The study site was the neighborhood of Mutirão in the Municipality of Serra Talhada, State of Pernambuco, Brazil, to collect and conduct interviews with 11 residents selected for convenience. Cross-sectional walking was used to highlight the micro and macro contexts of the place and the snowball technique in the selection of participants and application of interviews. The municipality presented diseases related to inadequate environmental sanitation, involving infectious parasites related to poor living conditions, which remain relevant in the morbidity and mortality of the population. It was noticed in the speeches that many people know some plant used in vector control. Knowledge emerges empirically through the lines transmitted from generation to generation and everyday experiences. There is a loss of traditionality in vector control actions among the highlanders of Pernambuco, who adopt chemicals rather than plant inputs, without considering the dangers and contamination of the environment in which they live. Finally, it is considered essential to redirect health education actions and policies that incorporate the use of plants for vector control as well as investments in sanitation in order to reduce the risk of arboviral transmitter vector infestation.


Keywords
Aedes aegypti; Pernambuco semiarid; Plant bioactivity; Environmental perception; Collective speech.

DOI
10.21438/rbgas.061426

Texto completo
PDF

Referências
ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva. Nota técnica sobre microcefalia e doenças vetoriais relacionadas ao Aedes aegypti: os perigos das abordagens com larvicidas e nebulizações químicas - fumacê. 2016. Disponível em: <http://www.abrasco.org.br/site/noticias/institucional/nota-tecnica-sobre-microcefalia-edoencas-vetoriais-relacionadas-ao-A.-aegypti-os-perigos-das-abordagens-comlarvicidas-e-nebulizacoes-quimicas-fumace/15929/>. Acesso em: 21 out 2018.

Albuquerque, E. M. Avaliação da técnica de amostragem 'respondent-driven sampling' na estimação de prevalências de doenças transmissíveis em populações organizadas em redes complexas. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, 2009. (Dissertação de mestrado).

Augusto, L. G. S.; Gurgel, A. M.; Costa, A. M.; Diderichsen, F.; Lacaz, F. A.; Parra-Henao, G.; Rigotto, R. M.; Nodari, R.; Santos, S. L. Aedes aegypti control in Brazil. The Lancet Infectious Disease, v. 387, n. 10023, p. 1052-1053, 2016a. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)00626-7

Augusto, L. G. S.; Santos, S. L.; Diderichsen, F. Review of the Aedes aegypti control strategy is needed: chemical warfare or tackling the social determination. WATERLAT GLOBACIT Research Network, v. 3, n. 9, p. 62-67, 2016b. Disponível em: <http://waterlat.org/WPapers/WPSATGSA39.pdf>. Acesso em: 24 jul. 2019.

Bardin, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

Carneiro, F. F.; Augusto, L. G. S.; Rigotto, R. M.; Friedrich, K.; Búrigo, A. C. (Orgs.). Dossiê ABRASCO: um alerta sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV, São Paulo: Expressão Popular, 2015. Disponível em: <https://www.abrasco.org.br/dossieagrotoxicos/wp-content/uploads/2013/10/DossieAbrasco_2015_web.pdf. Acesso em: 24 jul. 2019.

Carvalho, A. I. Determinantes sociais, econômicos e ambientais da saúde. In: Fundação Oswaldo Cruz. A saúde no Brasil em 2030: prospecção estratégica do sistema de saúde brasileiro: população e perfil sanitário. Rio de Janeiro: Fiocruz, IPEA, Ministério da Saúde, Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, 2013. v. 2. p. 19-38.

Climate-Data.org. Clima Serra Talhada: temperatura, tempo e dados climatológicos Serra Talhada. 2016. Disponível em: <https://pt.climate-data.org/america-do-sul/brasil/pernambuco/serra-talhada-42488/>. Acesso em: 24 dez. 2019.

Gomes, W. Uso de inseticida (organofosforado) no combate à dengue e os possíveis danos à saúde pública na área urbana de Foz do Iguaçu-PR. Medianeira: Universidade Federal do Paraná, 2014. (Monografia).

Goodman, L. A. Snowball sampling. Annals of Mathematical Statistics, v. 32, n. 1, p. 148-170, 1961. https://doi.org/10.1214/aoms/1177705148

Hemingway, J.; Ranson, H. Insecticide resistance in insect vectors of human disease. Annual Review of Entomology, v. 45, p. 371-391. 2000. https://doi.org/10.1146/annurev.ento.45.1.371

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 01 jun. 2019.

Lefèvre, F.; Lefèvre, A. M. C. O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa. Caxias do Sul: EDUCS, 2003.

Lefèvre, F.; Lefèvre, A. M. C.; Teixeira, J. J. V. O discurso do sujeito coletivo: uma nova abordagem metodológica em pesquisa qualitativa. Caxias do Sul: EDUCS, 2000.

Lefèvre, F.; Lefèvre, A. M. O sujeito coletivo que fala. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 10, n. 20, p. 517-524, 2006. https://doi.org/10.1590/S1414-32832006000200017

Londres, F. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. 1. ed. Rio de Janeiro: AS-PTA, 2011.

Lutinski, J. A. Infestação pelo mosquito Aedes aegypti (Diptera: Culicidae) na Cidade de Chapecó-SC. Biotemas, v. 26, n. 2, p. 143-15, 2013. https://doi.org/10.5007/2175-7925.2013v26n2p143

Ministério da Saúde. Aplicação espacial de inseticidas. 2014. Disponível em: <http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/controle-de-vetores-inseticidas-e-larvicidas/aplicacao-espacial-de-inseticidas>. Acesso em: 01 jun. 2019.

Nicolau, K. W.; Escalda, P. M. F.; Furlan, P. G. Método do discurso do sujeito coletivo e usabilidade dos softwares Qualiquantisoft e DSCsoft na pesquisa qualiquantitativa em saúde. Fronteiras: Journal of Social, Technological and Environmental Science, v. 4, n. 3, p. 87-101, 2015. https://doi.org/10.21664/2238-8869.2015v4i3.p87-101

Pignatti, M. G. Políticas ambientais e saúde: as práticas sanitárias para o controle do dengue no ambiente urbano. Cuiabá: UFMT, Instituto de Saúde Coletiva, 2002.

Secretaria de Saúde de Serra Talhada. Núcleo Municipal de Vigilância em Saúde. Plano de enfrentamento das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Serra Talhada: Núcleo Municipal de Vigilância em Saúde, 2017.

Souza, T. B. B.; Dias, J. P; Perfil epidemiológico da dengue no Município de Itabuna (BA), 2000-jun. 2009. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 34, n. 3, p. 665-681, 2009. Disponível em: <http://files.bvs.br/upload/S/0100-0233/2010/v34n3/a1873.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2019.

Wutke, E. B.; Ambrosano, E. J.; Calegari, A.; Wildner, L. P.; Miranda, M. A. C. Aedes aegypti: controle pelas crotalárias não tem comprovação científica. Campinas: Instituto Agronômico, 2015. (Documentos IAC 114).

 

ISSN 2359-1412