Revista Brasileira de Gestao Ambiental e Sustentabilidade (ISSN 2359-1412)
Bookmark this page

Home > Edições Anteriores > v. 11, n. 27 (2024) > Macêdo

 

Vol. 11, No 27, p. 223-242 - 30 abr. 2024

 

Intervenções para a contenção da erosão na Barreira do Cabo Branco (João Pessoa-PB): consequências e propostas



Maria Cristina Crispim , Andrea Bezerra Cavalcanti e José Kaio da Silva de Freitas

Resumo
A erosão da falésia do Cabo Branco, João Pessoa, Paraíba, Brasil é um processo natural, que vem ocorrendo ao longo dos anos. A erosão é eólica e hídrica, tanto pelo vento, como pela chuva, quanto pelo mar, no sopé da barreira. Para conter a erosão, uma das soluções adotadas pela Prefeitura de João Pessoa foi a deposição de pedras na encosta da falésia, enrocamento. Em consequência, a obra vem provocando erosão progressiva e alteração na dinâmica da linha de Praia do Cabo Branco, principalmente na porção sul, perto da Praça de Iemanjá. O enrocamento implantado na base da falésia sobre uma estrutura natural, inconsolidada, alterou abruptamente esse trecho de praia potencialmente refletiva, distorcendo o processo de circulação costeira e de transporte sedimentar anterior, com reflexos negativos a norte do enroncamento, direção da correnteza e do vento. Como está sendo executado, o enrocamento provoca o avanço da maré na região adjacente, a norte, responsável por expor grande quantidade de pedras (argilitos) anteriormente soterradas, provenientes da erosão natural da falésia, e acumuladas na região sul da Praia do Cabo Branco. A praia exibia poças cor-de-rosa em torno das "pedras" e a mancha rosa no mar aparece rente à ação da escavadeira. Após a divulgação da ocorrência, a Prefeitura Municipal de João Pessoa providenciou a retirada das pedras, realizada por escavadeiras, subtraindo, juntamente com as rochas, mais substrato arenoso e pedras naturais, contribuindo para potencializar a erosão. A remoção dessas pedras por escavadeira deixou a água da Praia do Cabo Branco rosa. O esmagamento e quebra do substrato pedregoso coloriu o mar com argila. Dessa forma, verificou-se o impacto negativo da construção do enrocamento na base da Barreira do Cabo Branco, com o aumento da erosão na parte sul da praia do Cabo Branco, com avanço sobre a pista, causando a sua destruição também. A obra está potencializando a erosão, causando a redução da Praia do Cabo Branco, na sua porção sul. A intervenção atual contrapõe-se às propostas de intervenção apresentadas em estudo de impacto ambiental realizado anteriormente, em que há a proposta da inserção de recifes artificiais semi submersos, como quebra mares, para a redução da força da água, para que alcançasse o sopé da barreira com menor energia, que seria dissipada nesse ambiente recifal artificial. Considerando que as obras até o momento realizadas trazem impactos ambientais negativos, propõe-se o aproveitamento do enrocamento que já foi instalado, para a construção de uma barreira côncava, que redirecione a força da água para trás, como num movimento de parede de skate, de forma a não redirecionar a correnteza para o norte, como se verifica agora. Esta proposta visa não a quebrar a energia marinha nas rochas, como está ocorrendo atualmente, mas a redirecioná-la de volta, de maneira que não provoque a destruição do enrocamento, evitando o direcionamento da corrente para norte. Outra proposta que reduz a erosão costeira, com o aumento da deposição de areia, produzindo a engorda de praia, são os sandsavers, que, de forma natural, refazem a deposição de areia, evitando alterações na correnteza, e dessa forma, evitando a erosão a norte na parte sul da Praia do Cabo Branco. Geotubos também realizam essa ação, permitindo que com a força da maré a água passe por eles e reduza o seu retorno com a deposição de areia, aumentando a alimentação da praia e retendo sedimentos, embora estes possam também sofrer desgaste e rompimento com o tempo.


Palavras-chave
Falésia do Cabo Branco; Erosão costeira; Muro côncavo; Sandsaver; Geotubos.

Abstract
Interventions to contain erosion in the Cabo Branco Barrier (João Pessoa-PB): Consequences and proposals. The erosion of the Cabo Branco Cliff, João Pessoa, Paraíba, Brazil is a natural process that has been occurring over the years. Is a wind and water erosion process, both by wind and rain, and by the sea, at the foot of the barrier. To contain erosion, one of the solutions adopted by the Municipality of João Pessoa was the deposition of stones on the slope of the cliff, rockfill. As a result, the work has been causing progressive erosion and changes in the dynamics of the Cabo Branco Beach line, mainly in the southern portion, close to Praça de Iemanjá. The riprap implanted at the base of the cliff over a natural, unconsolidated structure, abruptly altered this potentially reflective stretch of beach, distorting the process of coastal circulation and previous sedimentary transport, with negative reflections north of the riprap, current and wind direction. As it is being carried out, the riprap causes the tide to advance in the adjacent region, to the north, which was responsible for exposing a large amount of little stones (claystones) previously buried, resulting from the natural erosion of the cliff, and accumulated in the southern region of Cabo Branco Beach. The beach displayed pink puddles around the "rocks" and the pink stain in the sea appears close to the action of the excavator. After disclosing the occurrence, the Municipality of João Pessoa arranged for the removal of the stones, carried out by excavators, subtracting, together with the rocks, more sandy substrate and natural stones, contributing to enhance erosion. The removal of these stones by excavator left the water on Cabo Branco Beach pink. The crushing and breaking of the stony substrate colored the sea with clay. In this way, the negative impact of the construction of rockfill at the base of Barreira do Cabo Branco was verified, with the increase of erosion in the southern part of Cabo Branco Beach, with advance on the runway, causing its destruction as well. The rockfill is enhancing erosion, causing the reduction of Cabo Branco Beach, in its southern portion. The current intervention opposes the intervention proposals presented in an environmental impact study previously carried out, in which there is a proposal to insert semi-submerged artificial reefs, such as breakwaters, to reduce the force of the water, so that it reaches the foot of the barrier with lower energy, which would be dissipated in this artificial reef environment. Considering that the works carried out so far bring negative environmental impacts, it is proposed to take advantage of the rockfill that has already been installed, for the construction of a concave barrier, which redirects the force of the water backwards, as in a skate wall movement, in such a way as not to redirect the current to the north, as is the case now. This proposal aims not to break the marine energy in the rocks, as is currently happening, but to redirect it back, in a way that does not cause the destruction of the rockfill, avoiding the direction of the current to the north. Another proposal that reduces coastal erosion, with an increase in the deposition of sand, producing beach fattening, are the sandsavers, which naturally redo the deposition of sand, avoiding changes in the current, and thus, avoiding erosion. to the north in the southern part of Cabo Branco Beach. Geotubes also perform this action, allowing the water to pass through them with the force of the tide, and reducing its return with the deposition of sand, increasing the beach's nourishment and retaining sediments, nevertheless these can also suffer wear and tear over time.


Keywords
Cabo Branco Cliff; Coastal erosion; Concave wall; Sandsaver; Geotubes.

DOI
10.21438/rbgas(2024)112715

Texto completo

 Baixar este arquivo PDF

 


Referências
Angulo, R. J. Aspectos físicos das dinâmicas de ambientes costeiros, seus usos e conflitos. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 10, p. 175-185, 2004. https://doi.org/10.5380/dma.v10i0.3107

Brasil. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm>. Acesso em: 20 mar. 2023.

Ceccarelli, T. S. Paradigmas para os projetos de obras marítimas no contexto de mudanças climáticas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2009. (Dissertação de mestrado).

Dias, G. T. M. Introdução. In: Muehe, D. (Org.). Panorama da erosão costeira no Brasil. Brasília: MMA, 2018. p. 15-18.

FADURPE - Fundação Apolônio Salles de Desenvolvimento Educacional. Estudos da dinâmica costeira para redução/contenção do processo de erosão da Praça de Iemanjá, Falésia do Cabo Branco e Praia do Seixas no litoral de João Pessoa-PB. João Pessoa: FADURPE, 2011. (Estudo de impacto ambiental). v. 2.

IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima. O oceano e a Criosfera em um clima em mudança: um relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima. Berna: IPCC, 2019. Disponível em: <https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/sites/3/2020/11/SROCC_SPM_Portuguese.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2023.

Linhares, E. F. Avaliação do potencial impacto do quebra-mar destacado na diversidade faunística associada aos recifes de Sabellaria alveolata (L.) da Praia da Aguda. Porto: Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, 2006. (Dissertação de mestrado).

Matias, K. C. O. Caracterização da relação poder público-sociedade-natureza mediante a análise do Projeto Estação Ciência, Cultura e Artes do Cabo Branco, João Pessoa-PB. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2008. (Dissertação de mestrado).

Monteiro, N. V. A.; Araújo, E. C.; Linhares, L. P.; Silva, R. J. R.; Paula, D. P. Estruturas de conteção à erosão costeira: o uso de dissipadores de energia do tipo Bagwall. Anais do CONTECC’2016 - Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia, 2016.

Muehe, D. (Org.). Erosão e progradação no litoral brasileiro. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2006.

Nóbrega Júnior, J. S. A problemática do processo erosivo da Falésia do Cabo Branco-PB. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2016. (Trabalho de conclusão de curso).

Oliveira, U. R.; Koerner, K. F. Comportamento das estruturas de contenção à erosão costeira no Balneário do Hermenegildo. Revista de Engenharia e Tecnologia, v. 7, n. 2,p. 67-76, 2015.

Portal Correio. Prévia do Censo: PB tem mais de 4 milhões de habitantes, sendo João Pessoa a maior cidade, com quase 900 mil. 2022. Disponível em: <https://portalcorreio.com.br/previa-do-censo-pb-tem-mais-de-4-milhoes-de-habitantes-sendo-joao-pessoa-a-maior-cidade-com-quase-900-mil>. Acesso em: 20 mar. 2023.

Prata, P. M. Variação textural dos sedimentos da Praia de Camburi, Vitória-ES, após o engordamento artificial. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, 2005. (Monografia de conclusão de curso).

Reis, C. M. M. O litoral de João Pessoa (PB), frente ao problema de erosão costeira. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2008. (Tese de doutorado).

Riul, P.; Rodrigues, F. M. A.; Xavier-Filho, E. S.; Santos, R. G.; Leonel, R. M. V.; Christoffersen, M. L. Macrocrustaceans from Ponta do Cabo Branco, João Pessoa, Paraíba, Brazil, the easternmost point of South America. Revista Nordestina de Biologia, v. 19, n. 1, p. 3-13, 2008.

Santos, D. H. C.; Passavante, J. Z. O. Recifes artificiais marinhos: modelos e utilizações no Brasil e no Mundo. Boletim Técnico-Científico do CEPENE, v. 15, n. 1, p. 113-124, 2007.

Silva, P. L.; Lins-de-Barros, F. M. A alimentação artificial da Praia de Copacabana (RJ) após 51 anos: transformações geomorfológicas e dinâmica atual. Terra Brasilis, Nova Série, v. 16, p. 1-27, 2021. https://doi.org/10.4000/terrabrasilis.9980

Sobreira, L. C. Expansão urbana e variações mesoclimáticas em João Pessoa, PB. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2010. (Dissertação de mestrado).

Souza, M. A. L.; Souza Filho, M. A. L.; Andrade, E. L.; Oliveira, R. C. B. Recuperação da Praia de Costa Brava, Alagoas, Brasil, usando tecnologia de dissipador de energia bagwall. In: Crispim, M. C.; Gomes, U. V. R.; Oliveira, F. M. F.; Nunes, E. N. (Orgs.). Livro de resumos do XII Encontro da Rede BRASPOR - Gestão das zonas costeiras: A influência continental na qualidade ambiental. João Pessoa: BRASPOR, 2022.

Thoma, A. C; Fernandes, E. P.; Rodrigues, E. F.; Santos, L. L.; Silva, A. C.; Prat, B. V. Blocos de solo-cimento para contenção de erosão hídrica. Revista Brasileira de Gestão Ambiental e Sustentabilidade, v. 7, n. 16, p. 1057-1070, 2020. https://doi.org/10.21438/rbgas(2020)071638


 

ISSN 2359-1412